• Leonardo Ávila Teixeira
Atualizado em
WUHAN, CHINA - MARCH 10: (CHINA OUT) A discharged COVID-19 patient departs Wuchang Fang Cang makeshift hospital by bus, which is the latest temporary hospital being shut down, on March 10, 2020 in Wuhan, Hubei province, China. As the number of Coronavirus (Foto: Getty Images)

Cidades, imunização e liderança: ideias para refletir sobre a pandemia (Foto: Getty Images)

Em casos como o que estamos vivendo, se informar nunca é demais. Se por um lado órgãos e instituições tem deixado claro um arcabouço de informações sobre prevenção, cuidados e boas práticas, vale também dedicar um pouco de tempo para pensar o que esta crise nos reserva quando a poeira baixar.

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Um bom ponto de parada neste sentido pode ser o simpósio online promovido esta semana pela Singularity University, instituição global de inovação e transformação digital focada no desenvolvimento de novos líderes. O conteúdo foca apresenta uma visão interdisciplinar do dilema trazido à tona pelo Covid-19. Abaixo trazemos quatro destaques do evento, mas, vamos ser honestos aqui: é bem provável que seu tempo livre esteja um tanto maior. Por isso, sugerimos também acessar todos os três dias de simpósio e ver o que mais te interessa. Todo conteúdo está disponível online gratuitamente.

Seu corpo contra o contágio

Órgãos de saúde pelo mundo vem aconselhando medidas como o distanciamento social e práticas responsáveis de higiene como maneiras de conter a doença - e elas são peças fundamentais no quebra-cabeças que é diminuir a curva do contágio. Mas o Dr. Amory B.Lovins, cofundador do Rocky Mountain Institute, reforça que elas não estão sozinhas:

"A não ser que alguém consiga a façanha quase impossível de desenvolver uma vacina universal contra todo tipo de coronavírus, temo que o Covid-19 permancerá entre nós, como a gripe e o resfriado - parte do nosso ecossistema -, e nossa principal principal defesa vai ser nossa competência imunológica nativa", diz o especialista.

Lovins recomenda que instituições pensem não só como isolar pessoas do vírus, mas garantir que nossos corpos sejam capazes de combatê-lo. Medidas que passam por tópicos como saúde mental, sono regulado e alimentação adequada. "Aumentar nossa capacidade imunológica global deveria ser uma das prioridades", argumenta Lovins. "Acho que as pessoas gostariam de conhecer o resto desta história, saber que elas têm o poder de fazer algo a respeito", conclui.

Pandemias e as cidades

Quando a crise do Covid-19 passar, não será a última vez que vamos ouvir falar de pandemias. É o que lembra o palestrante, escritor e empreendedor social Robert Muggah. E estes eventos estão mais comuns no último século do que nunca estiveram: "Entre 1980 e 2013, tivemos 12 mil casos registrados de surtos de doenças", diz. E, como dá para perceber com bolsões de dengue e H1N1 no Brasil, assim como uma nova variedade de gripe aviária surgindo nas Filipinas, elas muitas vezes ocorrem em paralelo.

"Temos que garantir que não voltemos a um modelo de normalidade", diz Muggah. "Se aprendemos algo com os últimos meses, é que mudanças sistemáticas gigantes devem ocorrer na maneira que lidamos com pandemias e outros riscos complexos e conectados".

Muggah observa algumas megatendências responsáveis por um aumento no caso de surtos: a globalização, que traz maior movimento de mercadorias e pessoas, a mudança climática, responsável pelo aquecimento do planeta e episódios climáticos extremos, e a urbanização, responsável pelo desmatamento, pela diminuição da biodiversidade e por populações de alta densidade. Sobre as cidades, Muggah aconselha: "Muitas pandemias de fato prosperam nos limiares das cidades e não nos seus centros. A prevenção tem que começar em corredores de mobilidade e cadeias de distribuição, mesmo em outros países". E reforça a importância de proteger trabalhadores autônomos, como motoristas de Uber, táxis e entregadores, além de funcionários do setor de serviços: "As pessoas de quem mais dependemos são as mais vulneráveis", diz.

A importância da identidade digital

Quando se fala de Covid-19 e instituições, o que vem muito a mente é a potencial pressão sobre o sistema de saúde (algo que já é tensa realidade na Itália, por exemplo), a necessidade de leitos e profissionais. Mas a dra. Mariana Dahan, que trabalhou em conjunto com o Banco Mundial em crises como o surto de Ebola de 2014, lembra de outro ponto importante: a identificação digital. 

Conforme as economias se digitalizam, argumenta a especialista, esta modalidade de documentação abre portas para "o sistema de saúde, claro, mas também serviços financeiros, proteção social e participação política mais ampla", explica. "Ela surge como um direito humano básico".

A criação de sistemas digitalizados como este, segundo a especialista, já deu sinais positivos, por exemplo, na Coreia do Sul. "Em paralelo a um sistema ágil de testes, o governo usou comunicação pessoal com usuários de celulares para alertas e informes, criando uma relação de transparência e confiança", lembra Dahan.

O desafio, neste sentido, ainda é grande - e supera o campo digital. Segundo dados recentes do Banco Mundial, são quase 1 bilhão de adultos no mundo sem documentação de identidade (a maioria deles, mulheres), e 600 milhões de crianças entre 0 e 14 anos que ainda não foram registradas - e portanto, são incapazes de provar suas existências.  

5 dicas para líderes em tempos de trabalho remoto

Autora de um conjunto de best-sellers sobre inovação e expert em transformação digital, Charlene Li propóe um receituário simples para liderar bem durante este período de distanciamento social:

1. Seja um líder estratégico

Pratique calma e foco, mas acima de tudo, segundo Li, entenda: "Seu trabalho não é ter todas as respostas, e sim saber fazer as perguntas certas"

2. Crie estabilidade e segurança através de estrutura e processos

"Esclareça o que significa trabalhar agora", sugere Li. "Seja muito claro a respeito de metas e sucesso". Determinar um conjunto preciso de ferramentas de trabalho e pensar em colaboração assíncrona com funcionários que podem não estar trabalhando mais em horários redondinhos é fundamental. "Defina novas maneiras de trabalho, pense nisso como uma aceleração para sua transformação digital", conclui. 

3. Seja aberto e transparente

"Como líderes, fomos ensinados a não sermos abertos, que se abrir é perigoso. É preciso se fechar e limitar comunicações, pois daí que vem poder e segurança. Mas o que aprendemos recentemente é que transparência é uma força, uma capacidade entral dos maiores núcleos de inovação do planeta", comenta a especialista.

4. comunique em três dimensões

Segundo Li: "Sobrecomunique. Saia de uma mentalidade de escassez em favor de um modelo de compartilhamento. Seja multimodal. Use todo e qualquer canal disponível, seja e-mail, vídeo, one-on-one ou mesmo notas escritas, mas defina uma fonte de 'verdade'. Por último, pense primeiro no remoto, nem todos os funcionários estarão próximos de você."

5.Identifique oportunidades para o futuro

"Oportunidade pode ser a última coisa na sua mente agora, mas acredito que é um momento fundamental para pensar no potencial de mudança e impacto que você pode ter", comenta.

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