Por Henrique Coelho, G1 Rio


Aplicativo que organiza crimes por hora e local ajuda nas estratégias de patrulhamento

Aplicativo que organiza crimes por hora e local ajuda nas estratégias de patrulhamento

Metade dos roubos de rua da Região Metropolitana do Rio em 2016 ocorreu em 2% do território. O dado do Instituto de Segurança Pública (ISP) só foi possível de ser levantado devido a uma tecnologia que tem auxiliado nas estratégias de policiamento. O aplicativo ISP Geo mapeia diariamente os crimes por hora e local, além de dividir as áreas com precisão de cerca de 300 metros quadrados. As informações georreferenciadas ajudam a planejar o patrulhamento e a tentar frear o aumento da criminalidade.

No momento, 19 batalhões de Polícia Militar e analistas da Divisão de Homicídios utilizam o aplicativo. Nesta segunda-feira (14), começa um novo curso de análise criminal para o restante das unidades da PM, com duração de duas semanas, para que os policiais aprendam a usar a ferramenta. O objetivo é agilizar a análise das manchas criminais.

Desenvolvido em parceria com o Instituto Igarapé e financiado por empresários cariocas, o sistema localiza os crimes ocorridos em um espaço de até 14 horas. Os dados são atualizados duas vezes por dia e obtidos com base nos registros de ocorrência feitos nas delegacias.

Com o uso do aplicativo, o instituto compilou dados que mostram que 50% dos roubos de rua (a coletivo, transeuntes e de celular) na Região Metropolitana em 2016 ocorreram em apenas 2% do território da região, que inclui a capital, Niterói, São Gonçalo e a Baixada Fluminense. Foram quase 28 mil roubos de rua em poucos locais, se comparados à área.

G1 no Bom Dia Rio: Aplicativo do ISP monitora áreas de criminalidade do Rio

G1 no Bom Dia Rio: Aplicativo do ISP monitora áreas de criminalidade do Rio

"Quando se fala em 2% do território, a gente divide em segmentos de rua. O que a gente usa são células de monitoramento, é como se a gente dividisse todo o território em quadrados de 300 metros por 300 metros", explicou Joana Monteiro, presidente do ISP.

Segundo Joana, a identificação dos crimes por local e horário proporciona uma chance de identificar padrões que antes eram pouco visíveis.

"A gente vê como pontos de ônibus são locais com muito roubos de rua. Pontos de roubo de veículos são entroncamentos, com rotas onde você consegue escapar. A polícia já sabe disso, a questão é que com isso nós podemos sistematizar essa informação", comentou a presidente do ISP.

Segundo Joana, o maior objetivo é oferecer informação de forma ágil para a Secretaria e as unidades operacionais de segurança. Os dados do Instituto são compilados a partir dos boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil.

"O ISP já tinha um sistema para isso, mas a gente entendeu que precisava de mais agilidade, para que os policiais da ponta pudessem fazer isso e para que cada um pudesse ter um entendimento melhor da sua área. Entender o crime no ponto, na esquina da rua onde ele aconteceu, é fundamental para o entendimento da criminalidade", afirmou a presidente do ISP.

As áreas mais "quentes" mostradas no Mapa do ISP Geo para roubos de rua são nos arredores dos seguintes locais:

  • Central do Brasil
  • Rodoviária Novo Rio
  • Avenida Rio Branco com o Largo da Carioca
  • Rua Mem de Sá, na Lapa
  • Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into)
  • Metrô da Pavuna

Baixada

O capitão Leonardo Graciano é o chefe do setor de análises criminais do 3º Companhia de Policiamento de Área, que reúne informações dos seis batalhões da Polícia Militar na Baixada Fluminense: 15º BPM (Duque de Caxias), 20º BPM (Mesquita), 21º BPM (São João de Meriti), 24º BPM (Queimados), 34º BPM (Magé) e 39º BPM (Belford Roxo). Na sede da 3ª Companhia, seis policiais utilizam quatro telas para acompanhar as informações e os mapas de vários indicadores de criminalidade, em uma pequena sala nos fundos do terreno do Batalhão de Mesquita.

Segundo ele, o aplicativo possibilitou que consultas que demoravam horas sejam feitas em minutos, e destacou que o sistema reúne as informações que antes eram conseguidas após trabalho exaustivo com quatro plataformas diferentes.

"Para nós, significa tempo. Fazemos o mesmo serviço quase 10 vezes mais rápido, e com mais eficiência. Fazemos esse acompanhamento com uma velocidade enorme para ter que a gente alocou essa viatura onde ela era realmente necessária", explicou ele.

Dados apresentados à reportagem do G1 mostram que 1.584 roubos de veículos foram cometidos em março de 2017 na região da 3ª CPA. Os números superaram e muito a meta dos batalhões, que era de 952 roubos. O mapeamento de horários revela que a maior parte dos roubos ocorreram entre 19h e 23h. Em uma das sextas-feiras do mês, houve 36 roubos entre 22h e 23h.

"Esse acompanhamento da análise criminal, da mancha criminal, não é fácil de ser feito, e às vezes existem alguns fenômenos. A incidência geralmente é maior de manhã e à noite. Só que agora eu consigo medir isso em um único dia, consigo perceber em quais ruas a mancha está maior. Amanhã, se eu quiser, eu posso mudar esse planejamento", afirmou Graciano. "Se o crime migrar, eu também migro a estrutura do policiamento imediatamente, até para economizar recursos e não fazer um patrulhamento às cegas."

Dados indicam crescimento

Os dados sobre violência oscilaram bastante nos últimos 10 anos no Rio. Durante os anos de José Mariano Beltrame à frente da Secretaria de Segurança, os números apresentaram grande queda de 2007 a 2012, e voltaram a subir de 2012 até os primeiros meses de 2017.

Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, divulgada em abril de 2017, a taxa de homicídios dolosos no estado caiu de 40 em 2006 para cerca de 25 a cada 100 mil habitantes. No entanto, os desaparecimentos aumentaram em 51%.

A pesquisa faz uma análise dos indicadores de segurança do Rio de Janeiro entre 2006 e 2016, pontuando as mudanças e melhoras após a criação das Unidades de Polícia Pacificadora, em 2008, até 2013, quando o quadro começa a piorar em vários setores.

No ano de 2017, os dados de homicídios dolosos chegaram a 1.475 no primeiro trimestre, um número 17% maior do que no primeiro trimestre de 2016. De 1 de janeiro até a segunda semana de maio, havia estimativas de mais de 24 mil roubos a pedestres em todo o estado. No interior, o aumento foi de 156%; na capital, de 50%; em Niterói, de 156%; e na Baixada o aumento foi de 240%.

Em fevereiro, o número de roubo de veículos chegou a 40% em relação ao mesmo mês de 2016 (3.056 em 2016 – 4.287 em 2017). Foi o maior número registrado desde o início do ISP como instituto que apresenta os dados de segurança pública do Rio, em 1991.

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